Quando eu conto, há apenas eu e você juntos.
Mas quando olho adiante a estrada branca
Há sempre um outro caminhando ao seu lado
Envolto num manto marrom, encapuzado.
Não sei se homem ou mulher.
Mas quem é esse outro ao seu lado?"
T.S. Eliot (1) escreveu esta parte do seu poema "The waste land' (2) baseada no relato de uma das primeira expedições à Antártica, quando os exploradores no fim de suas forças tinham a constante ilusão de que havia uma pessoa a mais no grupo do que as que podiam ser contadas.
***********
Quatro na mesa. Todos decididamente mais pra lá do que pra cá. Tinham combinado que pediriam a última rodada de chopes, porque o dono já começava a virar as cadeiras sem esperar que eles as desocupassem. Um deles chama o garçom e pede:
- Mais cinco. Para terminar.
O garçom vai buscar os chopes e os quatro ficam em silêncio. Até que um deles pergunta:
- Por que cinco?
- Um para cada um, ora.
- Mas nós somos quatro.
- Como, quatro?
- Quatro. Um, dois, três, quatro.
- Você esqueceu de contar você mesmo.
- Esqueci não. Olhe só. Eu, um. Você, dois. Três e quatro.
- Assim não dá. Cada um grita um número. Eu sou um.
- Dois.
- Três.
- Dezessete.
- Mas o que é isso? Que dezessete?
- Não era pra escolher um número?
- Sua besta. De um a quatro, ou cinco, para saber quantos nós somos.
- Mas isso é fácil. É só contar. Um, dois, três, quatro.
- Você contou você mesmo?
- Contei. Ou não contei?
- Não me lembro mais.
O garçom traz os cinco chopes.
- Tenho uma idéia - diz um deles.
- Cada um toma o seu chope. Se sobrar um, é porque somos quatro.
Todos bebem. Um dos chopes permanece intocado. Os quatro ficam em silêncio, olhando o copo cheio. Finalmente alguém diz:
- Viu? Nós somos quatro.
- Ou tem um quinto, mas ele não quer beber conosco...
Mais silêncio.
- Por que será?
Estão todos ainda olhando o copo cheio, quietos, desconsolados, quando o dono vem tirar as cadeiras.
- Mais cinco. Para terminar.
O garçom vai buscar os chopes e os quatro ficam em silêncio. Até que um deles pergunta:
- Por que cinco?
- Um para cada um, ora.
- Mas nós somos quatro.
- Como, quatro?
- Quatro. Um, dois, três, quatro.
- Você esqueceu de contar você mesmo.
- Esqueci não. Olhe só. Eu, um. Você, dois. Três e quatro.
- Assim não dá. Cada um grita um número. Eu sou um.
- Dois.
- Três.
- Dezessete.
- Mas o que é isso? Que dezessete?
- Não era pra escolher um número?
- Sua besta. De um a quatro, ou cinco, para saber quantos nós somos.
- Mas isso é fácil. É só contar. Um, dois, três, quatro.
- Você contou você mesmo?
- Contei. Ou não contei?
- Não me lembro mais.
O garçom traz os cinco chopes.
- Tenho uma idéia - diz um deles.
- Cada um toma o seu chope. Se sobrar um, é porque somos quatro.
Todos bebem. Um dos chopes permanece intocado. Os quatro ficam em silêncio, olhando o copo cheio. Finalmente alguém diz:
- Viu? Nós somos quatro.
- Ou tem um quinto, mas ele não quer beber conosco...
Mais silêncio.
- Por que será?
Estão todos ainda olhando o copo cheio, quietos, desconsolados, quando o dono vem tirar as cadeiras.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Rio de Janeiro, O Globo, 08/02/2009, p. 07.)
(1) Thomas Stearns Eliot (St. Louis, 26 de setembro de 1888 - Londres; 4 de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário britânico-norte-americano.
(2) "The waste land" (A terra oculta)
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